segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Episódio de Desejo

Seduzes-me, e fazes-me sentir um enorme desejo por ti!
Imagino o toque da campainha
Vou à porta, abro, e vens tu entrando
De forma absolutamente sedutora
A entrar pelo escritório adentro
Com um caminhar ondulante
Sensual
Percorres o espaço em torno de mim
Deixas-me zonzo
A admirar-te
Continuas a circundar-me, e vais-me deixando louco
Encostaste levemente a mim
E afastas-te de seguida
Dás-me apenas um cheirinho do teu toque
Aproximas-te e afastas-te
Eu fico ardente de desejo vendo-te continuadamente próxima e afastada, mas voltando de novo
Agarro-te
Não te deixo afastares-te outra vez
Trago-te contra mim
Abraço-te e trago-te bem aconchegada nos meus braços
Andamos e rodopiamos juntos pela sala
Aproximamo-nos das mesas
Encosto-te às mesas e fico de frente para ti
Com um arrojo desmesurado de desejo
Faço-te descair e deito-te por cima da secretária
O teu tronco fica deitado na mesa, as tuas pernas movem-se ora apoiadas no chão, ora movendo-se no ar
Eu posiciono-me bem contra o teu corpo
Entro por entre as tuas pernas
Baixo o meu tronco e o meu rosto
Até chegar ao teu, deitado na secretária
Agarro-te pelo pescoço, abraço-te e beijo-te
E com uma das mãos percorro desde as tuas pernas
Às tuas coxas
Às tuas ancas
Ao teu ventre
Às tuas mamas
Acariciando-te
Deixando a tua pele em polvorosa
Lentamente, faço subir o teu vestido, antevendo as tuas coxas agora desnudas e ansiosas pelo contacto corpo a corpo
Baixo as alças do teu vestido
Fazendo-as deslizar pelos ombros e pelos braços
Beijo intensamente o teu pescoço
Tu inclinas a tua cabeça para trás
Abres o teu pescoço para mim, acentuando o volume das tuas mamas
Elas ficam agora no plano principal de um quadro maravilhoso
Com essa perspectiva, coloco o meu rosto por entre as tuas mamas
Beijando entre elas
Beijando cada uma delas
Agarrando-te pela cintura, contigo inclinada para trás
As tuas pernas içadas no ar
O teu ventre a sentir o meu corpo pressionando-me contra ele
Os teus cabelos a descair para trás como se fossem água a cair numa cascata
Desabotoas a minha camisa
Ela vai-se soltando e deixando o meu peito à tua mercê
Percorres com as tuas mãos o meu peito
Levantas-te um pouco e sentas-te na secretária
Encostas-te a mim
Colocas os teus braços por entre a minha camisa, envolvendo-me por trás das costas
Abraçamo-nos forte e ficamos encostados tronco com tronco
A minha pele contra a tua
O meu peito no teu
O teu peito no meu
E beijamo-nos de novo
Vais baixando as tuas mãos
Em direcção às minhas calças
Começas a abrir o meu fecho
Massajas-me por cima da roupa
Fazes-me ficar louco
E tu sentes que ele cresce de desejo
Eu contínuo a percorrer o teu corpo
Afagando todos os teus recantos e enchendo-te de carícias
Então desabotoas as minhas calças
Sentes que ele está crescido esperando por ti
Colocas a tua mão por entre as calças abertas e por entre as cuecas
Tocas-lhe sem nenhuma interferência
Sentes-lhe a corrente sanguínea
Fervendo
Aumentando-lhe a temperatura
Eu vou ficando cada vez mais louco de desejo
Começo a tocar-te nas coxas e nas virilhas
Vou-me aproximando das tuas cuecas
Começo-te a tocar ainda com cuecas
Sinto a tua temperatura, como ficas cada vez mais quente
Sinto o teu monte
Levanto as tuas cuecas e coloco os meus dedos por dentro delas, e vou-te acariciando
Na tua envolvência
E de fora
Como sinto o teu calor!
Como estás quente!
E como é fascinante sentir a tua temperatura a subir e a subir
Continuo a acariciar-te
Agora nos teus lábios vaginais
Coloco os meus dedos em cima deles como se tivessem deitados num leito de prazer
Suavemente faço os meus dedos entrarem dentro de ti
Acaricio-te por dentro
Sinto a tua humidade
Untando-me de prazer
Tu estremeces
Envolves-me com as tuas pernas e abraças-me puxando-me contra ti
Pressiono-te e fricciono-te por dentro
Com a outra mão percorro o teu tronco
Desde o teu ventre, o teu umbigo, subindo até as tuas mamas
Ponho a minha mão sobre cada uma delas
Em forma de concha tentando absorver o máximo delas
Pressionando-te levemente, sinto o teu sangue a correr dentro de ti
Numa velocidade frenética de desejo imenso
Moves-te um pouco
Baixas as minhas calças e as minhas cuecas
Que ficam caídas e presas aos meus pés
O teu vestido está agora enrolado como se fora um cinto na tua anca
A parte superior também foi baixando até aí
E a parte inferior fui levantando até aí
Quase todo o teu corpo está apenas coberto pelo ar
Ou pelo meu próprio corpo
Acaricias-me
Deixas-me cada vez mais louco
Eu também, com os meus dedos dentro de ti
Só o fazem ficar mais danado por querer ser ele a estar dentro de ti
Ele fica morrendo de desejo
Dispo as tuas cuecas
Fazendo-as deslizar pelas tuas pernas, acompanhando-as com as minhas mãos
Até que saiam por cada um dos teus pés
Beijando as extremidades dos teus dedos dos pés
E dando pequenas mordidas ao mesmo tempo que vou mexendo com as mãos e os dedos fazendo pequenas massagens nos teus pés
Com as minhas mãos vou subindo as tuas pernas
Joelhos
Coxas
Até chegar aos teus flancos
Agarro-te convictamente e puxo-te contra mim
Deslocas as tuas pernas num movimento de abertura, deixando-me preso dentro delas como se me abraçasses com as pernas
Puxas-me para junto de ti
Pego nele e lentamente vou-me aproximando de ti
Primeiro só com um ligeiro encosto
Depois fazendo alguma pressão
Fazendo entrar a sua parte superior
Estou a iniciar uma nova loucura dentro de ti
E começo-te a sentir verdadeiramente
Sinto que o recolhes de uma forma magnífica
Untando o seu caminho
Vou estando cada vez mais dentro de ti
Até que não sobra mais nada do lado de fora
E preencho-te por inteiro dentro de ti
Nós assim unidos num desejo de união e de prazer louco e intenso
Como é maravilhoso este momento
Encostamo-nos um no outro, sem que sobre espaço entre nós
Os nossos corpos num só
E beijamo-nos intensamente deixando-nos ofegantes
Tu com os teus movimentos pélvicos
Que o fazem movimentar-se dentro de ti
Que te pressiona e te fricciona
E que me dão um prazer louco
Continuamos nesta loucura de sensibilidade, de ardor
De um desejo que se concretiza
Até que nos explodimos
Eu em ti
Com um relâmpago bem forte
Oferecendo-te o meu sémen contra as tuas paredes interiores
Quentes
Faço-te receber
E acolher-me com os teus fluidos vaginais
Que são como um leito divino que me recebe e acolhe
Numa loucura de amor e paixão
E beijamo-nos e deixamo-nos cair um no outro, ofegantes e desejosos
Por um novo começo
A querer fazer acontecer tudo de novo!

sábado, 25 de agosto de 2007

O ponto final

Havia passado já algum tempo desde que estivéramos juntos. Já não conseguia suportar mais este estado de desassossego, a viver um constante apaixonar por todas as mulheres que vejo… todas também é um exagero! Mas por aquelas que me dedicam um infinitésimo de atenção!

Um estado de permanente ansiedade, a pensar que não vivo a minha vida ao máximo, que não tiro o maior partido da vida, sempre à espreita a cada esquina de poder aproveitar todas e quaisquer possibilidades, esperando não deixar nenhuma por testar. Na esperança de não desperdiçar um único segundo do pouco tempo que tenho, na busca incessante de que nessa miríade de possibilidades, há-de estar aquela que me há-de seduzir e arrebatar!

Queres-te vir! – perguntava ela sabendo antecipadamente a resposta!

Era uma pergunta redundante! Claro que me queria vir! Era escusado perguntar! Mas adorava a sua preocupação! A extrema atenção e dedicação com que me perguntava! Mais do que a mera sugestão ou predisposição apaixonada, ela fazia questão de o tornar explícito, concedendo-lhe uma força brutal de desejo carnal.

Havíamos chegado a um ponto sem retorno! Há tanto que o tempo nos tinha deixado, como se nos tivéssemos esquecido de tudo o que se passou, de tudo o que tivemos. Tínhamo-nos deixado levar, embalados pelo sonho, de amar aquilo que tínhamos encontrado!

O que resta do nosso amor?

Erguemos castelos, e saltamos muralhas… as mesmas muralhas que agora nos separam e defendem um do outro!

Carregamos o imensurável peso de um amor que já o foi, agora avassalado pela areia que se amontoa e sobrecarrega as paredes, levada pelos incontroláveis ventos, sopros e caprichos do coração. Mas a areia é sobrevalorizada! O que é a areia senão rochas pequenas minúsculas?!

Ela vem vestida apenas com o ar lascivo e pungente, com um calor intrínseco irradiante e contagiante. O andar simultaneamente afirmativo e ondulante. Os seios redondos palpitantes e bamboleantes em movimentos sincronizados com o andar, pequenos e belos cachos que aspiram sofregamente ser amparados, contornados, acondicionados, prensados, apalpados, beijados, mordiscados… as coxas fortes e pronunciadas que anunciam o envolvimento e que me levam, prendem e cingem-me contra a vagina quente e húmida, sôfrega pela penetração do meu pénis. Envolvo-a com os meus braços. Percorro o caminho desde a nuca até as nádegas, que agarro convictamente num movimento ascendente. Pressiono-a contra mim. Tenho agora o meu pénis enrijecido e fervilhante contra o seu ventre. A respiração acelerada e ofegante. Beijo-a louca e apaixonadamente. Ajustamo-nos um ao outro! O meu pénis está agora deitado no leito formado pelos lábios vaginais. Uma pequena e propositada hesitação que aumenta a excitação. Penetro-a! Estou dentro dela! Ela recebe-me calorosamente! Fundimo-nos! Toda o sentido do nosso amor, toda a sua razão de ser. Bastamo-nos! Não precisamos de nada nem de ninguém. Ali os dois num só, num relâmpago explosivo e luminoso de êxtase total.

Uma relação incaracterística de avanços e recuos, com uma gramática muito particular e recheada, pontuada aqui e ali na sua variedade extrema.

As interrogações: Amas-me? Queres que vá para dentro de ti? Gostas de me ter? Como é estar dentro de mim? As vírgulas, essas pequenas pausas que nos permitiam respirar, retemperar forças e retomar o fôlego. Os pontos e vírgulas que sinalizam as frases não acabadas, e que mostram toda a continuidade de algo que ainda está incompleto e está por vir sem horizonte delimitado. Os dois pontos que pausam e enunciam as enumerações do nosso amor. As exclamações de felicidade, bem estar, harmonia, de enlevo, de inebriação, de completação do sentido do todo. As reticências que marcam as interrupções propositadas nas frases, que se mostram à primeira vista incompletas, quando ditas, mas que se completam quando não ditas, porque não há necessidade: conhecemos e sabemos as palavras que terminam as frases e não as precisamos de enunciar. As aspas que acondicionam o reforço das nossas palavras e dão guarida aos versos edílicos. Os parênteses que enquanto metáforas de nós, aí integrados e apartados de um mundo exterior, por que o nosso mundo somos nós. Os parágrafos que mostram cada um dos agrupamentos de frases e de momentos, que se sucedem e dão corpo e significado a um texto, que é o registo escrito, o diário do nosso amor. Os travessões marcantes e delimitadores das nossas falas, dos nossos diálogos, ou melhor do nosso monólogo connosco próprios. As interjeições: ah, sim! Oh!

E o ponto final! A marca da pausa absoluta. A seguir a um ponto pode vir mais uma frase. Mas não a seguir a um ponto final! Tínhamos colocado um ponto final! Será que a nossa frase, o nosso parágrafo, o nosso capítulo, o nosso texto estava completo?! Não estaria concerteza, ou não estaria na busca incessante de outro amor! Porque o amor nunca está completo! Mas este certamente que tinha chegado ao seu término! Tínhamos avistado o seu horizonte e para lá era o vazio.

Um ponto! Como é que algo assim sem matéria que ‘não tem partes’, tal ínfimo elemento no espaço que não possui corpo, apenas descreve posições através das suas coordenadas, pode ser tão preponderante. Ou como Pontos, antigo deus pré-olímpico do mar, gerado por partenogénese de Gaia, que o gerou por si própria sem se acasalar. Pontus parece no entanto pouco mais que uma personificação do mar. Ele próprio com uma existência imaterializada, apenas representando essa imensidão e vastidão de águas perturbadas do desconhecido que transbordam e fustigam as praias e as suas areias.

Um ponto! Um ponto final!

Um ponto final porque “às vezes nem sempre tudo vale mais que quase nada” e “nem sempre a luz no fundo é o fim da caminhada”…

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

palavras adubadas

são palavras quais flores que eu colhi só para ti a pensar em ti, desse jardim de inspiração cultivado e enriquecido pelo adubo de uma musa como tu

Peculiar de facto...

com uma mão modela o pescoço, contorna as orelhas e afaga-lhe a nuca, simultaneamente com dois dedos faz deslizar a ténue e fina alça que marca ao de leve o local da pele por onde sustenta o vestido, desarmando a deslumbrante linha com que o ombro agora nu aguarda a proximidade do calor e o tacto sedento dos lábios que estreitam a curta distância que os separam dos seus poros. a insistente solicitude é então voluptuosamente respondida com o suave e intenso repousar de um beijo que preenche o seu ombro de um puro deleite

ou apenas uma forma peculiar de expressar um desejo
beijo

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Perfeita ou Imperfeita? Eis a questão…

Perfeição em termos genéricos respeita a um estado daquilo que é completo e sem quaisquer falhas.

Perfeição vem do latim perfectio e perfeito de perfectus. Estas palvras por sua vez derivam de perfictio, que quer dizer 'acabar', 'terminar', 'concluir', ou se se quiser 'aperfeiçoar'. Então literalmente perfectio significa 'acabamento', 'conclusão', 'aperfeiçoamento', e perfectus significa 'acabado', 'terminado', 'concluído', 'aperfeiçoado'. (Priberam Online).

Entre as primeiras tentativas de definir a perfeição, encontra-se a que remonta a Aristóteles, que lhe concede 3 conceitos, em que perfeito:

1. é o que é completo, que é constituído por todas as suas partes necessárias;

2. é o que é tão bom que é inigualável, e nada se lhe assemelha nem é superior;

3. é o que atinge o seu propósito, objectivo ou finalidade.

Estes três seriam depois resumidos a dois por Tomás de Aquino: o primeiro é redundante relativamente ao segundo, pelo que resta então aquilo que é perfeito per si, ou seja substantivamente (substância), e o que é perfeito porque serve os seus propósitos (finalidade).

Poder-se-á afirmar que em todo o sempre o homem procurou e procura alcançar a perfeição. Pode-se até mesmo estabelecer um paralelo entre a busca da felicidade e da perfeição. A finalidade e o próprio movimento da vida são no sentido da busca permanente e incessante da felicidade. E o que é a felicidade senão um estado de perfeição!?

Nesta busca inatingível, como se sabe quando algo é perfeito ou se encontra num estado de perfeição!? Desde cedo houve então a necessidade do estabelecimento de referências sublimes que representariam/representam o ‘ser’ perfeito e o estado de perfeição.

Neste particular, estabeleceram-se sobretudo relações entre o ‘Homem’, a ‘Natureza’ e outros níveis sobre-humanos ou sobre-naturais a quem são atribuídas as características últimas da perfeição e os modelos que se deve seguir e atingir.

A mitologia grega encerra em si um exemplo excepcional para o que se acabou de mencionar, ao estabelecer uma relação hierárquica entre deuses, semideuses e heróis, e os restantes homens, existindo assim um meio comparativo que auxiliava e localizava nessa hierarquia o grau de perfeição dos homens, e das coisas ou da natureza, quando esta se assemelhasse ou não ao local onde habitavam os deuses: o Olimpo.

Com o decorrer dos tempos, as capacidades, os conhecimentos, e o domínio da técnica e da arte têm impulsionado um conjunto de entendimentos disciplinares e parcelares do que é perfeito e do estado de perfeição.

É assim que se pode falar em perfeição em disciplinas como a matemática, a física, a química, a ética, a estética, a ontologia e a teologia.

Em matemática refere-se aos números perfeitos, por exemplo.

Na física e na química associa-se a um conjunto de conceitos a palavra perfeito, que em muitos casos serve para designar estados últimos ou inexistentes de propriedades e comportamentos dos elementos. Um fluído perfeito é aquele que não é compressível e é não-viscoso, e um tal fluído é ideal e inexistente na natureza. Um gás perfeito ou ideal é um modelo idealizado para o comportamento de um gás.

Estes conceitos são necessários em física e em química, na medida em que estabelecem limiares, valores e comportamentos ideais e que são ficcionais. A sua necessidade é fundamental na medida em que estabelecem os extremos a que em maior ou menor grau os elementos presentes na natureza se podem aproximar. Dito de outra forma, as ‘coisas reais’ são tanto mais próximos da perfeição quanto se aproximam desses valores ou comportamentos ideais, embora nunca se possa falar estritamente em perfeito ou perfeição.

Pode-se aqui introduzir uma consideração sobre a natureza, tendo em conta este posicionamento advindo da perspectiva científica, analisando sobre os dois pontos de vista iniciais: o da substância e o da finalidade.

Pelo entendimento desta perspectiva todos os elementos na natureza são imperfeitos, porquanto nenhum deles se caracteriza pela presença dos valores e comportamentos ideais. No entanto, de uma forma agregada o conjunto dos elementos relacionando-se constantemente entre si, num organismo global vivo, a que aqui designamos por natureza, pode-se afirmar que a natureza é perfeita, no sentido em que cumpre de forma excepcional a sua finalidade, isto é, não é perfeita substantivamente, mas é perfeita na busca da sua finalidade, a sua sobrevivência, continuidade e evolução.

O debate sobre perfeição no campo da ética, incide iminentemente sobre o homem, mas não se questiona se o homem é ou não perfeito, mas sim se o homem deve ser perfeito, e em caso afirmativo, o que significa o que é ser perfeito e como se obtém tal estado de perfeição.

Este debate é essencialmente dirimido por duas vias: a teológica e a ontológica. A via teológica refere-se à perfeição no âmbito da religiosidade e da existência de um deus ou deuses, os quais são ‘personificações’ da perfeição e que todos os homens deveriam ‘ser perfeitos’ à imagem dos seus deuses. Assim sendo, o homem seria mais ou menos perfeito consoante a sua maior ou menor adequação aos modelos de vida, leis e virtudes religiosas associadas ao culto do respectivo deus.

A via ontológica segue uma interpretação antropocêntrica relacionada com o seu posicionamento na natureza (a natureza é perfeita, e perfeito é o homem que vive em harmonia com as leias da natureza), distinguindo duas interpretações: (1) o homem primitivo como sendo aquele mais perto da perfeição, porque era o mais próximo da natureza. A perfeição é colocada no homem do passado, porque se entendia que a civilização afastou o homem da perfeição em vez de o levar para mais perto dela; (2) a civilização aperfeiçoou o homem trazendo-o mais perto da razão, e desse modo à natureza, uma vez que a razão conduziria a vida com a devida consideração pelas leis da natureza.

Entretanto o desenvolvimento das ciências sociais e biológicas tem provocado alterações no entendimento da perfeição, concedendo-lhe duas perspectivas que se consubstanciam numa mudança de enfoque não na perfeição em si, mas na sua busca, ou seja o importante não é realmente a perfeição mas sim o ‘aperfeiçoamento’. Acresce que a perfeição não reside apenas em fontes individuais, mas também sociais. Sendo o indivíduo parte de uma sociedade, a perfeição social sobrepõe-se à perfeição individual: a perfeição social influencia a humanidade enquanto que a perfeição individual apenas diz respeito ao indivíduo.

A estética é outro ponto de onde se observa ou se discute a perfeição. Na Grécia Antiga a perfeição era tida como um requisito para a beleza e para as ‘belas artes’. Pitágoras defendia que a perfeição era encontrada nas proporções exactas e na combinação harmoniosa das partes. Platão acreditava que a arte tinha de ser ‘apta, apropriada, se desvios, enfim perfeita.

As considerações no âmbito da estética evoluíram ao longo dos tempos desde o entendimento de que a ‘beleza consiste na perfeição, e que é por isso que a beleza é uma fonte de prazer’, à negação de que beleza e perfeição são sinónimos, uma vez que ‘o julgamento do gosto (ie o julgamento estético) é independente do conceito de perfeição – ou seja a beleza é algo diferente de perfeição’. Mais do que afirmar que beleza e perfeição não são sinónimos, surgiram entendimentos baseados na negação da ideia de que a perfeição é a causa da beleza, e que a beleza quase sempre envolve elementos de imperfeição.

A partir do que se tem vindo a dizer, é-se então chegado a um paradoxo deveras singular e que é o seguinte: a maior perfeição é a imperfeição. De um entendimento inicial de que a perfeição é algo que é completo e que nada lhe fará falta (nada a acrescentar nem nada a retirar), é assim contestado pelo facto de tal estado não admitir aperfeiçoamentos. A perfeição depende então de sucessivos estados incompletos, uma vez que estes estados têm um potencial de desenvolvimento e de acabamento com novas características. A imperfeição é perfeita.

Finalmente verifica-se também que os entendimentos carecem de entendimentos e análises inter-relacionais e de perspectivas críticas. Tais entendimentos dependem da escala de abordagem, da escala e o tempo cronológico, do contexto individual e societal, da evolução civilizacional, dependem do ponto de origem e das coordenadas âncora com que encaramos as situações, as perspectivas, os desejos e anseios…

A escala abrangida pela Natureza, é ela própria de uma ‘imensidão imensurável’ que tende para o infinito, e envolve desde o sub-atómico até ao amplamente universal. Para uma consciencialização dos sistemas e das conexões expressas na relatividade de escalas ver por exemplo o documento consubstanciado pelo filme ‘Powers of Ten’ realizado em 1977 por Charles and Ray Eames.

"Perfection is no more attainable for us than is infinity. One ought not to seek it anywhere: not in love, nor beauty, nor happiness, nor virtue; but one should love it, in order to be virtuous, beautiful and happy, insofar as that is possible for man." Alfred de Musset

"To strive for perfection, to devote endless time to a work, to set oneself — like Goethe— an unattainable goal, are all intents that are precluded by the pattern of modern life." Paul Valéry

Somos chegados então à consideração de um caso individualizado: es ou não perfeita?!

Enquanto ser vivo constituída por um conjunto de elementos que têm comportamentos e características reais, e não as ideais, poder-se-á dizer que és imperfeita.

Enquanto ser vivo com um conjunto agregado de elementos que formam um corpo comum, ou dito em sentido figurado, uma máquina natural, as inter-relações que os elementos estabelecem, e o funcionamento dos órgãos trabalham todos no âmbito da manter uma máquina com um processo produtivo complexo e cuja produção é contínua, e não admite paragens. Neste sentido és perfeita, porquanto o corpo e os seus constituintes cumprem a sua finalidade.

Mas pode-se entender também que és imperfeita se se assumir que não existe um funcionamento óptimo d corpo humano, com todos os seus órgãos a funcionarem plenamente, no limiar dos valores ideais. Para tal haveria um funcionamento óptimo para tal, e poder-se-ia atribuir um grau de perfeição do funcionamento do teu organismo relativamente ao funcionamento de um organismo humano ideal.

Enquanto ser vivo ‘individual’ como um elemento constituinte do meio global que é a natureza, serás parte de uma engrenagem quem tem como papel o de contribuir para a acção final da natureza de assegurar a continuidade e transformação da vida. Como avaliar a perfeição ou imperfeição neste caso? Qual a tua contribuição para a transformação da vida? Qual o teu papel para a continuidade da vida?

Enquanto indivíduo és perfeita? ie, relativamente aos anseios, desejos e entendimentos da vida e da busca da felicidade, o motivo sublime da acção humana?

Enquanto indivíduo membro de uma comunidade, de uma sociedade és perfeita ou imperfeita? No contributo social, na relação social, nas relações inter-pessoais, nas actividades, nos prazeres, no amor? Contribuis para a perfeição ou imperfeição de outrem? Quem contribui para a tua perfeição / imperfeição?

Enquanto indivíduo no seio de uma comunidade alicerçado num conjunto de valores judaico-cristãos, mais especificamente católicos, és perfeita no que representa à tua semelhança com deus, a tua busca da paz interior, da tua graça divina, da tua fé, da tua procura de viver à imagem e semelhança de deus?

Enquanto ser vivo que tem um corpo com existência física e que tem uma forma única e inimitável associada, tens um corpo perfeito no sentido estético? Poder-se-á dizer que sim, poder-se-á dizer que não! Dependendo de quem ‘avalia esteticamente’ podes ser ou não perfeita. Uma avaliação que depende do quadro formal, educacional, cultural e societal do observador. E mais, não dependerá essa avaliação de um sentimento? O dito popular lá refere que para quem ama, bonito lhe parece! Mas como se viu acima a beleza e a perfeição não são sinónimos pois não!? E que tal se fores imperfeita? Não são outros que dizem que a verdadeira perfeição é a imperfeição?

E depois disto tudo? Queres ser perfeita ou imperfeita? Sabendo que o estado de perfeição é um estado inexistente, ideal, e inatingível? Mas sabendo também que mesmo que seja concretizável isso quer dizer que não terá nunca oportunidade de melhorar! Queres ser imperfeita? Queres ter um potencial de desenvolvimento e de aperfeiçoamento permanente?

És perfeita ou imperfeita? Queres ser perfeita ou imperfeita?

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Nobody´s perfect

Nobody´s perfect,
well i´m a nobody,
so therefore I must be perfect!!!

Então é assim:

NOBODY per si, segundo vários dicionários significa:
no person (Cambridge Learner's Dictionary)

vamos por partes:

NO
É a forma reduzida de NONE, que significa nenhum / nenhuma / nada

PERSON
Ser humano, pessoa, indivíduo

Ou seja, será nenhuma pessoa, nenhum indivíduo

mas NOBODY também se pode entender como NO+BODY

vamos por partes novamente:

NO
Já vimos atrás

BODY
Refere-se à forma física de humanos ou animais (MSN Encarta Dictionary), ou à estrutura física de uma pessoa/indivíduo (person) ou animal (Cambridge Learner's Dictionary)

Assim sendo NO+BODY quererá dizer nenhum corpo, ou melhor dito pessoa/indivíduo sem estrutura física, ou sem existência concreta e palpável

Resumindo tudo, a afirmação “I’m a nobody” literalmente significará “sou nenhuma pessoa”, ou “sou um indivíduo sem corpo” ou “sou alguém sem existência / estrutura física”. A própria afirmação “sou nenhuma pessoa” peca uma vez que para ser uma pessoa implica necessariamente uma existência física e um corpo, ou seja ser um indivíduo. Como és uma pessoa, um indivíduo com existência física e terrena, a afirmação “I’m a nobody” é falsa!

Isto tudo para dizer que não sendo tu “ninguém”, logo não podes ser perfeita!

A felicidade é como a pluma

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
.”
Tom Jobim e Vinícius de Moraes

A finalidade e o próprio movimento da vida são no sentido da busca permanente e incessante da felicidade. É ela que nos alimenta e impele. Sendo certo que parte dessa dinâmica depende de uma força motora intrínseca e endógena em cada um de nós, também é certo que o ‘mundo’ em que vivemos condiciona, dificulta e/ou proporciona a nossa felicidade. Mais que uma felicidade individualizada, as felicidades construídas em bases partilhadas apresentam-se mais prazerosas: quando o fôlego se mostra ofegante e curto para manter a brisa a soprar, outros ventos contribuem para manter a pluma a esvoaçar.