sábado, 25 de agosto de 2007

O ponto final

Havia passado já algum tempo desde que estivéramos juntos. Já não conseguia suportar mais este estado de desassossego, a viver um constante apaixonar por todas as mulheres que vejo… todas também é um exagero! Mas por aquelas que me dedicam um infinitésimo de atenção!

Um estado de permanente ansiedade, a pensar que não vivo a minha vida ao máximo, que não tiro o maior partido da vida, sempre à espreita a cada esquina de poder aproveitar todas e quaisquer possibilidades, esperando não deixar nenhuma por testar. Na esperança de não desperdiçar um único segundo do pouco tempo que tenho, na busca incessante de que nessa miríade de possibilidades, há-de estar aquela que me há-de seduzir e arrebatar!

Queres-te vir! – perguntava ela sabendo antecipadamente a resposta!

Era uma pergunta redundante! Claro que me queria vir! Era escusado perguntar! Mas adorava a sua preocupação! A extrema atenção e dedicação com que me perguntava! Mais do que a mera sugestão ou predisposição apaixonada, ela fazia questão de o tornar explícito, concedendo-lhe uma força brutal de desejo carnal.

Havíamos chegado a um ponto sem retorno! Há tanto que o tempo nos tinha deixado, como se nos tivéssemos esquecido de tudo o que se passou, de tudo o que tivemos. Tínhamo-nos deixado levar, embalados pelo sonho, de amar aquilo que tínhamos encontrado!

O que resta do nosso amor?

Erguemos castelos, e saltamos muralhas… as mesmas muralhas que agora nos separam e defendem um do outro!

Carregamos o imensurável peso de um amor que já o foi, agora avassalado pela areia que se amontoa e sobrecarrega as paredes, levada pelos incontroláveis ventos, sopros e caprichos do coração. Mas a areia é sobrevalorizada! O que é a areia senão rochas pequenas minúsculas?!

Ela vem vestida apenas com o ar lascivo e pungente, com um calor intrínseco irradiante e contagiante. O andar simultaneamente afirmativo e ondulante. Os seios redondos palpitantes e bamboleantes em movimentos sincronizados com o andar, pequenos e belos cachos que aspiram sofregamente ser amparados, contornados, acondicionados, prensados, apalpados, beijados, mordiscados… as coxas fortes e pronunciadas que anunciam o envolvimento e que me levam, prendem e cingem-me contra a vagina quente e húmida, sôfrega pela penetração do meu pénis. Envolvo-a com os meus braços. Percorro o caminho desde a nuca até as nádegas, que agarro convictamente num movimento ascendente. Pressiono-a contra mim. Tenho agora o meu pénis enrijecido e fervilhante contra o seu ventre. A respiração acelerada e ofegante. Beijo-a louca e apaixonadamente. Ajustamo-nos um ao outro! O meu pénis está agora deitado no leito formado pelos lábios vaginais. Uma pequena e propositada hesitação que aumenta a excitação. Penetro-a! Estou dentro dela! Ela recebe-me calorosamente! Fundimo-nos! Toda o sentido do nosso amor, toda a sua razão de ser. Bastamo-nos! Não precisamos de nada nem de ninguém. Ali os dois num só, num relâmpago explosivo e luminoso de êxtase total.

Uma relação incaracterística de avanços e recuos, com uma gramática muito particular e recheada, pontuada aqui e ali na sua variedade extrema.

As interrogações: Amas-me? Queres que vá para dentro de ti? Gostas de me ter? Como é estar dentro de mim? As vírgulas, essas pequenas pausas que nos permitiam respirar, retemperar forças e retomar o fôlego. Os pontos e vírgulas que sinalizam as frases não acabadas, e que mostram toda a continuidade de algo que ainda está incompleto e está por vir sem horizonte delimitado. Os dois pontos que pausam e enunciam as enumerações do nosso amor. As exclamações de felicidade, bem estar, harmonia, de enlevo, de inebriação, de completação do sentido do todo. As reticências que marcam as interrupções propositadas nas frases, que se mostram à primeira vista incompletas, quando ditas, mas que se completam quando não ditas, porque não há necessidade: conhecemos e sabemos as palavras que terminam as frases e não as precisamos de enunciar. As aspas que acondicionam o reforço das nossas palavras e dão guarida aos versos edílicos. Os parênteses que enquanto metáforas de nós, aí integrados e apartados de um mundo exterior, por que o nosso mundo somos nós. Os parágrafos que mostram cada um dos agrupamentos de frases e de momentos, que se sucedem e dão corpo e significado a um texto, que é o registo escrito, o diário do nosso amor. Os travessões marcantes e delimitadores das nossas falas, dos nossos diálogos, ou melhor do nosso monólogo connosco próprios. As interjeições: ah, sim! Oh!

E o ponto final! A marca da pausa absoluta. A seguir a um ponto pode vir mais uma frase. Mas não a seguir a um ponto final! Tínhamos colocado um ponto final! Será que a nossa frase, o nosso parágrafo, o nosso capítulo, o nosso texto estava completo?! Não estaria concerteza, ou não estaria na busca incessante de outro amor! Porque o amor nunca está completo! Mas este certamente que tinha chegado ao seu término! Tínhamos avistado o seu horizonte e para lá era o vazio.

Um ponto! Como é que algo assim sem matéria que ‘não tem partes’, tal ínfimo elemento no espaço que não possui corpo, apenas descreve posições através das suas coordenadas, pode ser tão preponderante. Ou como Pontos, antigo deus pré-olímpico do mar, gerado por partenogénese de Gaia, que o gerou por si própria sem se acasalar. Pontus parece no entanto pouco mais que uma personificação do mar. Ele próprio com uma existência imaterializada, apenas representando essa imensidão e vastidão de águas perturbadas do desconhecido que transbordam e fustigam as praias e as suas areias.

Um ponto! Um ponto final!

Um ponto final porque “às vezes nem sempre tudo vale mais que quase nada” e “nem sempre a luz no fundo é o fim da caminhada”…

12 comentários:

Sinha Amorim disse...

Publicado no dia em que fiz 30 anos... intemporal e amedrontadora coincidência!

Intemporalidade Das Palavras
“As palavras têm o poder
De amaldiçoar quem as verbaliza
São instrumentos diabólicos
Com aparência etérea e cristalina
Originários da incerteza ancestral

As palavras possuem a subtileza
De um abraço cortante
E incutem insanidade
Nas mais frágeis e débeis criaturas

As palavras levam-nos ao sofrimento
E enclausuram-nos no seu interior
Silenciosamente

As palavras são fantasmas
Uma espécie de assombração imprescindível

Os homens morrem e elas permanecem”

Karl Goth

bicha disse...

a busca incessante, do " amor " em todas as mulheres, sempre à espreita a cada esquina de poder aproveitar todas as possibilidades e não deixar nenhuma por testar, nessa miríade de possibilidades, há-de estar aquela que te há-de seduzir e arrebatar!
a busca incessante do amor, termina quando se deixa de procurar o amor. pois o amor não se "busca", dá-se.
O amor não se testa, incessantemente, as paixões sim, as atracções sim, o amor não. o amor vem quando estamos distraídos com outra coisa qualquer, não quando o procuramos. o amor é divino e transcendente. o amor não desespera. e quando olhamos o amor de frente ele desaparece.

Sinha Amorim disse...

O AMOR NÃO DESAPARECE, ELE É INFINITO... ELE APENAS SE VAI INDO, AOS POUCOS, CANSADO POR NÃO SER ALIMENTADO! E QUEM DIZ QUE O AMOR NÃO DESEPERA, É PQ NUNCA O PERCEBEU de FORMA TÃO INTENSA E IMENSURÁVEL, ATÉ QUE A RAZÃO FICA INSANA, E, MESMO ASSIM, NÃO SE QUER ENTENDER, E NEM SE QUER COMPREENDER, O POR QUÊ DE TER SE CHEGADO A ESSE PONTO... APENAS VIVÊ-LO EM SEU VÃO MOMENTO, PQ A VIDA GIRA EM TORNO DISSO, DOS MOMENTOS!!!

bicha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sinha Amorim disse...

"Toda Forma de Amor (LULU SANTOS)

Você é bem como eu
Conhece o que é ser assim
Só que dessa história
Ninguém sabe o fim
Você não leva pra casa
E só traz o quer
Eu sou teu homem
Você é minha mulher

E a gente vive junto
E a gente se dá bem
Não desejamos mal a quase ninguém
E a gente vai à luta
E conhece a dor
Consideramos justa toda forma de amor."

Não existem modelos, não existem regras... toda forma de amor deve ser levada em consideração... desde o amor construtivo, ao amor que é mau... ao amor que mata!!! E nem sempre o amor conduz a felicidade, pois, como disseste e muito bem, a felicidade está dentro de cada um de nós! E sim, nós caimos sempre no erro de querer alguém que tem aquilo que não temos, a quem julgamos que nos vai completar! Mas nunca pensaste no amor puro e simples? Nunca pensaste naquele amor que não tem objectivos ou finalidades, que não tem condições ou regras, naquele amor que dura e dura, e que não se sabe aonde vai dar, mas que também tem pouca importância? Naquele amor que, você sabe quem é o ser amado, pois este amor não lhe cega, porque tu vês os defeitos da pessoa, e, mesmo assim, não és, minimamente, arreliado por estes, pois consideras o mais importante a pessoa, e não o que ela tem e é? Não Reflectiste nisto? Esse amor existe! É somente uma forma de amar, completamente "não-habitual" e, pelos "pré-conceitos" sociais, impossível, que se choca com tudo e com todos, até mesmo com os quem pertencem ao núcleo amoroso, os envolvidos (ou não)!

Podem me chamar de Julieta Capuleto dos novos tempos, não tem mal... mas este amor existe sim, e já o senti varias vezes...

Sinha Amorim disse...

DEIXO AQUI UM ALERTA: NÃO FAÇO APOLOGIA AO AMOR QUE MATA, POIS ESTE AMOR É DOENTIO, MAS ATE MESMO ESSE AMOR, NA MENTE DOENTIA DE QUEM AMA, NÃO DEIXAR DE SER AMOR, EMBORA QUE INSANO!!!!

bicha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

A gente ta falando o mesmo, damos voltas e voltas, e acabamos por falr o mesmo! Já me rectifiquei do amor mau, pq não é "normal", embora também ache que não deixa de ser um tipo de amor!!! Mas acho que não consigo me expressar, deve ser isso, pois vai dar sempre no mesmo: AMOR SENTIMENTO ABSURDAMENTE DIVINO! Bicha, fica bem!!!

bicha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sinha Amorim disse...

Hummmm, vai, então: explica-me lá isso como eu tivesse 5 anos de idade! É a "alguém em concreto"? Tas apaixonada? Bem, eu tbm estava... exactamente por um "alguém em concreto"! Tas a ver? Não nos conhecemos e temos algo em comum!!! Ahhhh, meu Deus, esse "alguém em concreto"...

bicha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sinha Amorim disse...

Bicha... eu morri!!!!